Mensagem Maurícia 009 de 1960

Exupério, o subcomandante da Legião Tebana, a dois passos da morte, demonstrou integral fidelidade ao Cristo, ao repetir-lhe o famoso ensinamento: ”A César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!”

       Fora esta, séculos antes, a resposta do Mestre aos partidários da libertação do jugo romano. Baldavam-se-lhes os esforços para atrair à campanha autonomista a inteligência e o dinamismo prodigiosos daquele jovem e magnético condutor de homens. Tentaram, por isso, intrigá-lo com as autoridades, mostrando-lhes uma moeda já destinada ao pagamento dos impostos. Interpelaram-no sobre a legalidade da cobrança estrangeira. Cristo, integrado na sua missão espiritual, fê-los reconhecer a relatividade das cogitações mundanas, – frente ao magno problema da fidelidade absoluta da criatura ao seu Criador: ”Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”

       Pascal, mais tarde, afirmava: o mais cruel dilema do Homem é saber distinguir as coisas do Espírito das coisas da Matéria. Ele, pessoalmente esforçou-se por espiritualizar ao máximo sua própria religião, incorrendo na ira dos sacerdotes. Mas a Verdade avançava em seu auxílio, trazida pelos Mensageiros do outro plano da Vida.

       Jesus não quis, em sua sabedoria, escandalizar a ignorância dos seus contemporâneos. ”Não vim, dizia, destruir a Lei, mas exemplificá-la.” Prometeu, porém, para um futuro próximo, as luzes do Consolador, capazes de ampliar o conhecimento da Verdade. Os ensinamentos complementares do Evangelho vieram, finalmente, dados pelo ”Espírito da Verdade“, através a pena metódica de Allan Kardec. Eles constituem hoje, a ”Terceira Revelação“, pedra de cantos na instituição da ”Cruzada dos Militares Espíritas“ do Brasil.

O Espiritismo, conforme já anunciava, nos faz, agora, compreender melhor o deslumbrante panorama atual do Universo infinito, constituído, não apenas pelo antigo universo-mirim, ao alcance dos olhos, parcamente ampliado pelos fracos telescópios de alguns lustros atrás, hoje com seus astros mais brilhantes decalcados nos instrutivos planetários das grandes cidades.

       O Universo, modernamente revelado pelas prodigiosas fotos policrômicas do gigantesco telescópio de 200 polegadas de El Palomar, compõe-se de incontáveis galáxias, mais ou menos semelhantes à galáxia da Via Láctea, onde o nosso Sol, insignificante estrela de quinta grandeza, e a Terra, com os demais Planetas, ocupam um recanto anônimo e obscuro. O Universo tem também sua música. As galáxias, com suas miríades de estrelas componentes, emitem sons, os quais foram há apenas alguns anos captados pelos imensos radiotelescópios americanos e europeus. Esse som provém das profundezas do Espaço, distantes da Terra bilhões e bilhões de anos-luz. O Universo transfigura-se, pois, ante os nossos olhos e ouvidos deslumbrado, comprovando-nos, em quadros miríficos, o infinito poder do seu Criador, nosso Pai Celestial!

       Desde tempos imemoriais, tribos, cidades e nações entregam armas a uma parcela de seus concidadãos para esses assegurarem-lhes a defesa contra as agressões. Inicialmente eram escolhidos os mais fortes fisicamente. Depois, os mais hábeis nos tratos das máquinas explosivas de alcance crescente, para melhor evitarem ou limitarem a antiga luta corpo a corpo. Esta, em suas cargas a pé ou a cavalo, encheu de heroísmo as páginas da História. Mas a beleza heráldica desses lances, onde o temor à morte

era ofuscado pelo amor ao ideal abraçado, acabou desfigurada pelas condições chãs e cruéis da guerra moderna, onde o Homem, para sobreviver aos arrasadores bombardeios, luta enterrado na lama da trincheira, trocando o luzidio uniforme de paz pela camuflada túnica de campanha.

       A Ciência avança a passos largos, antecipando-se a si mesma. Seus postulados, decorrentes dos sucessivos descobrimentos, são cada vez mais efêmeros e provisórios, pois as novíssimas investigações desceram outros e insuspeitados horizontes. Nós, militares, somos detentores da Força. Interessa-nos investigar com a ciência no-la tem fornecido através os tempos. Foi ela, inicialmente braçal. Depois, multiplicaram-na animais, viaturas e catapultas. Cresceu o bojo das detonações explosivas da pólvora e da nitroglicerina. Culmina, agora, no potencial inaudito das bombas termonucleares.  A luta desenvolvida antes sob as nuvens, na terra e nos mares, trava-se, agora, acima delas, em plena estratosfera.

          Mas ocorrem surpresas dramáticas nos laboratórios científicos. Onde há a maior fluidez da matéria, ali está o maior arsenal de força! Esta progride desde a gravitação dos corpos, passando pelas compressões hidráulicas e gasosas, até a final desintegração atômica. Os prepotentes do Mundo, adeptos das soluções materialistas e desconhecedores das forças subtis do Espírito, verificaram, sob a ficção da matéria, a condensação de simples faíscas de Energia, originadas, em última análise, na diferenciação do Espírito. A solidez da Matéria é uma ilusão decorrente das tremendas velocidades dessas partículas em perpétuo giro recíproco. Deus está presente na intimidade do átomo e ali foi encontrá-lo, desprevenida, a Ciência materialista, cujos fundamentos, em consequência, caíram por terra.

          O soldado, detentor da Força, segue o exemplo do Cientista, submetendo-se, com maiores razões, ao domínio da Lei Divina, cujo selo, gravado no Cosmos, tem indelével duplicata na intimidade do seu próprio ser. A obediência imediata, no plano contingente, a César – isto é, à hierarquia militar derivada do governo pátrio, – não lhe impede a obediência imediata ao Supremo Criador do Universo. A subordinação consciente do militar harmoniza-se, assim, à Fé racionada do crente. Dão-se, então, corretamente, os dois tributos: a César e a Deus; à Matéria e ao Espírito; ao Mundo Terrenal e ao Astral Superior!

Poucas são as potências atômicas. O Brasil não figura entre elas. Ei-lo, pois, livre da tentação do pecado atômico, – a suprema violência, arrasadora de cidades e populações. O Exército Brasileiro possui apenas as armas convencionais para a defesa da integridade nacional contra ataques externos ou degenerescências internas. O nosso Soldado, cristão por natureza, conhece o mandamento: ”Não Matarás“ e por certo, jamais o infringirá, a não ser em defesa própria ou da Pátria agredida.

As armas brasileiras, nunca empregadas em guerras de conquistas, asseguraram, muitas vezes, isso sim, a Paz e a Harmonia entre as Nações do Novo e do Velho Continente.

          Em um planeta ainda atrasado, como a Terra, encarnam falanges inumeráveis de espíritos sujeitos, pela Lei de Ação e Reação, a resgates duros e dolorosos. Ou suportam pacientemente suas provações coletivas, ou se revoltam contra elas, causando, direta ou indiretamente, tomentosas guerras e revoluções. Cabe, então, aos mansos e pacíficos, o dever doloroso de restabelecer a ordem no plano nacional ou internacional, armando-se, igualmente, mesmo a contragosto. O Espiritismo, complementação atualizada do Evangelho, ajuda então a criatura a compreender os seus deveres para com a Pátria e para com Deus. Provação sofrida é depuração e acrisolamento do Espírito. Não há injustiças, pois ”nenhum fio de cabelo cai de nossas cabeças sem que o Pai o queira“, no dizer do Cristo.

          Particularmente nós, Cruzados do Exército Brasileiro, duplamente iluminados pelo Evangelho e pelo Espiritismo, devemos nos manter firmes na estacada. O exemplo foi dado pela Legião Tebana, com o Capitão Maurício à frente, no dia de seu inolvidável martírio. Eles tinham, naquela época recuada, apenas a intuição de suas almas sensíveis para resolver o dúplice problema da Carne e do Espírito – do Mundo e de Deus.

Nós temos, como espíritas – argamassa em uma multidão de fatos sobejamente comprovados, nestes últimos cem anos – uma Doutrina esclarecedora, em essência, do Amor entre os Homens e as Nações. Conhecedores, pois, da Verdade, assistem-nos grandes responsabilidades na ação diuturna, dentro e fora

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dos nossos Lares, dentro e fora dos nossos Quartéis. Nesta época de exacerbação de paixões internacionais e sociais, sigamos, ainda uma vez, o conselho crístico, mantendo-nos ”mansos como a pomba e prudentes como a serpente“, para, através o Estudo, a Oração e a Caridade, podermos cumprir integralmente o nosso duplo dever de soldados do Brasil e Concidadãos do Universo!

Este renovado Testemunho de Fé é a nossa Mensagem Maurícia de 1960 aos Cruzados do Brasil!

Avante, sob as bênçãos do nosso Pai Celestial!

Fim

VII SEMANA MAURÍCIA

Elaborada pelo Gal.Bda. R/1 Roberto Pedro Michelena

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