PARÁBOLA DO SEMEADOR

“O semeador saiu a semear a sua semente”

     A Parábola do Semeador aparece no texto de três evangelistas: Mateus (Mt 13:1 a 23), Marcos (Mc 4:1 a 9) e Lucas (Lc 8:4 a 8).
     Esta parábola foi a primeira apresentada por Jesus e uma das três explicadas pelo Mestre.
     Se por um lado, o tema apresentado se relacionava com a vida cotidiana dos seguidores, porque usava a realidade de um povo envolvido na cultura agrária, pastoril e pesqueira, por outro lado, apresentava um contexto que promovia o despertar da verdadeira realidade, coerente com a compreensão espiritual de cada um.
     Pelo lado material, criou-se uma identidade com a mensagem que Jesus quis transmitir, mas o seu conteúdo moral extrapola o tempo material e torna-se cada vez mais didática, no contexto espiritual.
     Na Parábola do Semeador, encontramos, basicamente, três componentes: a semente, o semeador e o solo.

A semente

     Para Mateus, a semente representa a “Palavra do Reino” (Mt 13:19), e para Lucas significa a “Palavra de Deus” (Lc 8:11).
     Ela é invariável em toda a parábola e não interfere no resultado, porque ela é única. Se a semente lançada fosse diferente, não estaria representando a “Palavra do Reino” ou a “Palavra de Deus”, ou o semeador estaria sendo incoerente, lançando diferentes tipos de sementes, beneficiando, assim, a uns e não a outros.

O Semeador

Com relação ao semeador, Jesus não explicita que ele é o semeador exclusivo, mas esclarece que aquele que divulga a “Palavra” é o semeador.
     Claro que Jesus é o nosso semeador maior, mas muitos espíritos que já estiveram entre nós e alguns que ainda estão, também podem ser considerados semeadores.
     Sendo o semeador aquele que semeia a “Palavra”, subentende-se que ele possui uma ascensão espiritual que lhe dá credenciais morais para semear.
     Adiciona-se ao entendimento a sentença: “saiu a semear”. Ou seja, é necessário agir, ir ao encontro do outro a fim de disseminar a semente.
     Exatamente o que fez Jesus: semear é uma ação em busca do próximo, a fim de apresentar-lhe a semente.

O solo

     Nas palavras de Huberto Rohden, “o terreno não é o chão material e sim o terreno da alma humana”.
     Esse componente é complexo e variável ao longo de uma vida e no desenrolar das inúmeras encarnações.
     Em um primeiro momento, lança-se a semente no solo à beira do caminho, que é roubada pelos pássaros. Esse terreno duro e compacto representa a alma ainda não consciente das realidades espirituais. Sem condições de internalizar os ensinamentos, a “Palavra” (semente) fica exposta e por isso os pássaros a roubam, ou seja, os pássaros representam situações diversas, de ordem material, que distraem a alma humana.
     Em um segundo momento, o solo apresentado é pedregoso e está relacionado à fragilidade das raízes formadas, não impedindo que o sol – simbolizando os momentos de angústia, expiação ou provação – queimasse a planta.
A raiz deveria sustentar e fortalecer a planta, independentemente do sol, da chuva ou do vento, mas isso não ocorreu.       Então, o problema não foi o sol, mas sim a debilidade das raízes. Ou seja, a superficialidade da crença espiritual prejudica a compreensão a respeito da verdadeira “Vida”. A formação da raiz exige tempo, paciência e dedicação.
     Em um terceiro momento, o solo com espinhos indica aquele indivíduo que acredita na verdade espiritual, a ponto de se autodenominar religioso, mas que relega a planos secundários a sua prática, pois os interesses do mundo falam mais alto, ainda que exista, no íntimo, a compreensão da mensagem do Mestre. A semente germina, mas a planta se vê sufocada pelas ambições relacionadas ao mundo material. A despeito do entendimento intelectual, o esforço moral de vivenciar a “Palavra” se revela frágil.
     E, finalmente, a semente que caiu em solo fértil revela aqueles que ouvem, compreendem e praticam a “Palavra de Deus”, semeando por onde passam.
Mas o semeador, com sua experiência, não teria condições de avaliar que perderia boa parte das sementes em virtude do solo onde semeava?
     Não seria mais prático para Jesus lançar as sementes somente em solos férteis?
     O Mestre não escolheu os solos. Distribuiu a palavra para ricos, pobres, moços, velhos, fariseus, publicanos, pescadores, homens, mulheres, sadios, doentes, ou seja, uma imensa diversidade de pessoas.
     Não era de se esperar que as sementes frutificassem ao mesmo tempo.
     Novamente, para Huberto Rohden, “trata do terreno imprevisível do livre-arbítrio humano, onde nenhum semeador pode saber o resultado”, mas pode-se ter a esperança de que um dia frutificará.
     O que vale é a satisfação de colaborar com a semeadura e participar do Reino de Deus.
Enfim, sair a semear…

Wesley Vannuchi

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