Patrono Maurício

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No ano de 284 ascendia à direção do Império Romano Diocleciano, soldado favorecido pela fortuna, enérgico e hábil. Para minimizar os inúmeros e graves problemas que se apresentavam num vasto império com sinais inequívocos de decadência, decidiu ele associar ao governo, em 285, outro soldado experimentado, Maximiniano, com o título de césar, reservando para si o título de Augusto. Mais tarde, em 292, Maximiniano passava à condição de Augusto, e em 293 eram nomeados dois césares (Galério e Constâncio Cloro como coimperadores júniores), dando início ao que se conhece por tetrarquia.

Uma das primeiras missões atribuídas a Maximiniano, foi debelar a revolta dos bagaudos, povos germânicos que habitavam, então, a Gália, em território da atual Suiça. Maximiniano reúne um exército na Itália, do qual faziam parte alguns corpos vindos do Oriente, e com ele cruza o passo do Grande São Bernardo (Summus Penninos), no outono de 286. Um desses corpos orientais era formado por soldados cristãos, e se encontrava sob o comando de Maurício.

A tradição chama-o de “legião tebana“, embora se tratasse, ao que parece à crítica moderna, de uma coorte auxiliar. Dada a tradição se referir a uma “legião“, e como as legiões no período republicano e na fase inicial do império possuíssem efetivos aproximados de 6.600 homens, exagerava-se o efetivo da tropa de Maurício. Nesta época as legiões já tinham efetivo reduzido, e logo depois, sob Constantino, passariam a ter, oficialmente, 1.000 homens. Seria muito difícil falar-se, nestes tempos recuados, de grandes efetivos de soldados cristãos.

Todavia, a indicação “legião tebana” é, de fato, encontrada com certa frequência, no século IV, não só no Egito, como na Trácia e na Itália. Seja como for o gentílico desta tropa não dá margem a dúvidas: era originária da Tebaida, no alto Egito. O exército acampou em Octodorum (atual Martigny, Suíça), mas a coorte auxiliar tebana assentou acampamento em Agauno (hoje St-Maurice, Cantão do Vallais, Suíça), próximo a Octodorum. Antes da campanha, Maximiniano determinou os solenes sacrifícios propiciatórios aos deuses, entre os quais contavam-se, necessariamente, Roma e Augusto, além dos próprios césares em exercício. Nestas ocasiões eram renovados os juramentos de fidelidade. Maurício e seus homens recusaram-se a abdicar de seus princípios e a trair a própria consciência. Maximiniano, contrariado, determinou uma primeira dizimação, o sacrifício de 1 soldado em cada grupo de 10. A ação cruel não surtiu o efeito intimidador, sendo determinada uma segunda dizimação, que também fracassou em seus propósitos. Enfurecido ante a resistência estóica, Maximiano determina o sacrifício dos sobreviventes, todos decapitados. Escrevia-se com sangue, nos campos de Agauno, uma das páginas mais impressionantes do martirológio cristão, que a tradição registrou como sendo 22 de setembro de 286.

Posteriormente, a Igreja Católica conduziu Maurício à dignidade dos altares, santificando-o. A 22 de setembro de 515, o bispo São Avito, de Vienne, na França, pronunciou homilia para a inauguração da basílica mandada edificar, pelo rei borgúndio Sigismundo, em Agauno, a fim de recolher os supostos despojos dos mártires da “legião tebana“, encontrados por volta de 380, quando de uma cheia do rio Ródano.

O culto a São Maurício fez rápidos progressos na Europa. Durante a Idade Média surgiram ordens de cavalaria sob o seu patrocínio, como as dos Santos Lázaro e Maurício, na Savoia (Itália) e a do Tosão de Ouro, na Espanha. É curioso lembrar que, dada a sua origem egípcia, Maurício é representado nas artes, muitas vezes, como homem de cor, ou com características físicas da raça negra.

O significado deste sacrifício foi muito bem exposto pela sempre lembrada figura do venerável Gen Duque-Estrada, conforme consta de O Cruzado de setembro de 1959, do qual extraímos:

“Por certo, espetáculo igual jamais ocorrera em qualquer época, em parte alguma, de estoicismo, de devotamento a uma causa, de renúncia coletiva, como o que legaram ao mundo Maurício e seus comandados. Repetiam-se, com frequência, para gáudio dos césares e divertimento das massas embrutecidas pelos prazeres fácies, as cenas horripilantes dos circos de Roma.

No entanto, não poderiam ter a significação, não eram comparáveis à epopeia vivida pela Legião Tebana. De um lado, tratava-se de seres indefesos, que possuíam a couraça única de sua crença, a ampará-los na prova suprema, do outro, uma energia capaz de resistir e vencer, que se conservava, deliberadamente, em estado potencial apenas, robustecendo e amparando uma vontade de exaltar os espíritos em busca do Pai amoroso e bom.

Ao invés de um ato de rebeldia, de insubordinação, Maurício dá o exemplo de disciplina consciente e perfeita, serena e justa, sofrendo a punição imposta pela vontade desmedida do chefe terreno, ao mesmo tempo obedecendo sem vacilações, com humildade e energia, aos ditames da consciência e da razão. Tornou bem claro, pôs em evidência, com o ato que praticou, a separação que deve existir, sem tergiversações, entre os poderes temporal e espiritual, entre o que é da matéria e o que é do espírito. Foi esse, Maurício, Patrono e Guia que a vontade do Alto destinou à Cruzada dos Militares Espíritas, para ampará-la e orientá-la, estimulando-a e guiando-a na missão que lhe foi confiada da prática do Evangelho”.

O Gen Div Prof Augusto da Cunha Duque-Estrada (1883 – 1982) presidiu a CME de 1953 a 1979. Oriundo da arma de Cavalaria, foi o último Comandante da Escola Militar do Realengo, cujas portas encerrou, e onde foi, por largos anos, professor de Mecânica. Era formado em medicina, profissão que cultivou para atender aos necessitados. Foi um dos grandes médicos homeopatas brasileiros.

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