O olhar que vem do coração

“Se o vosso olho é motivo de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; melhor para vós será entrardes na vida tendo um só olho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno”.

                                                                   Matheus 5:29 a 30

Quem nunca observou o que os olhos de seu interlocutor expressavam? Quantas pessoas já passaram em nossas vidas com olhares diversos, que refletiram em nós, promovendo comunicação silenciosa?

Os nossos olhos são de extrema importância em nosso trajeto de vida e é por meio deles que descortinamos sentimentos e emoções.

O homem quando encarnado necessita da iluminação exterior para observar; diferentemente, a faculdade de ver (perceber) do espírito constitui um atributo próprio que independe de qualquer agente externo; ele vê (percebe) por sua própria iluminação. Se há pouca luz interior no indivíduo, pouca percepção visual haverá quando espírito em liberdade. Esta é a razão do uso da expressão: “espírito de luz” ou “espírito de pouca luz”.

Muito do que realmente somos e daquilo que trazemos em nossos corações estão expressos em nossos olhos. Eles representam a porta que traduz nossos sentimentos. Você pensa que está escondendo determinada emoção, porém seus olhos fazem transparecer o que por dentro você sente e é. É pelos olhos que nossas almas se tornam despidas. As pessoas, de maneira geral, umas mais outras menos, são capazes de fazer uma leitura do que os olhos dizem, falam ou expressam; os “olhos são o espelho da alma”. Dizem tudo, sem a necessidade de gesticular ou articular palavras, fazem o que mãos ou fala deixam de fazer. Expressam a verdade que vai no coração.

 É possível constatar:

– Olhos de Reprovação e de Aprovação; famílias educam seus filhos pelo olhar. 

– Olhos de Acusação; o olhar infalível como a flecha disparada por um arco.

– Olhos de Arrependimento, de Remorso, de Culpa; como “se o mundo tivesse caído”.

– Olhos de Ressentimento, de Mágoa; aqueles carregados de rancor e aflição.

– Olhos de Inveja; os que arremessam “dardos de inveja”.

– Olhos de Ambição e de Cobiça; o “olho grande” que murcha flores e provoca quebranto.

– Olhos de Honestidade e Nobreza de Atitude; olhos de sinceridade e de integridade.

– Olhos de Ternura, de Misericórdia; que contrasta com olhos de ódio, de raiva.

Enfim, em cada sentimento, emoção, impulso equivocado ou manifestação virtuosa, um olhar denuncia o coração.

Na caserna, constata-se o olhar do chefe militar que reconhece o bom ou o mau assessoramento do subordinado, como o gesto do olhar do subordinado que respeita o superior, até mesmo discordando dele.

Quem nunca percebeu de seu interlocutor a mensagem que trazia em seu olhar?

Há, ainda, o olhar sentido, com lágrimas que choram tristeza, alegria ou perda …. Como também há o olhar com “lágrimas de crocodilo”, que representa o choro fingido, enganador, muitas vezes, enganador de si mesmo.

Pessoas existem que só têm olhos para enxergar o lado mau e errado de tudo. Costumam ser aqueles que reclamam e se queixam de tudo e de todos. Têm o hábito de analisar sempre pela visão do mal e por aquela que vem a atender aos seus interesses, muitas vezes inferiores.

Outras se comprazem em acessar o noticiário violento, como para dizer que a matéria que seus olhos leem não está acontecendo consigo. Identificam na paisagem que se vê o que há de pior. Parece que veem fora o que há dentro de si, projetando sua sombra em seus interlocutores.

Há outras mais que nas caminhadas e passeios, caso enxerguem ao seu lado uma irmã de jornada humana, premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos.  E deixam de ver quem está jogado nas calçadas das ruas pedindo esmola. Isso, por certo, os incomoda. Pelo menos poderiam deixar um olhar de caridade. Mas nem isso acontece.

Com olhos de maldade, o indivíduo se acostuma a acompanhar a vizinhança pela janela de sua moradia, preenchendo seu tempo em tomar conta da vida dos outros.

Podemos dizer que nossas qualidades anímicas expressam-se pelos nossos gestos e, de forma aguda pelo nosso olhar. Dão-nos a conhecer pela simplicidade ou pela má índole com que olhamos e consideramos os outros, as coisas e os fatos. Não é necessário palavras para nos fazer entender. Você pode agredir pelos olhos. Seus olhos podem externar a caridade que vai no seu coração, sem necessidade de palavras. Basta o olhar.

É importante que aprendamos a ver o bem em todos e em toda parte, para que o bem se manifeste e cresça em nossas vidas. Necessitamos entrar em sintonia com o Universo, onde só existe amor e bondade, onde tudo obedece para uma finalidade justa, útil e necessária.

Quando falamos do olhar e da luz que precisamos para enxergar nosso itinerário, não podemos esquecer que nossa necessidade é a da conquista da luz própria, de esclarecimento íntimo, de autoeducação, de conversão substancial do “eu” ao reino de Deus.

por José Lucas de Silva Cruzado 6294

Conheça a Biblioteca virtual do site da CME – Clique aqui

Deixe um comentário