O Presidente da Cruzada dos Militares Espíritas respondeu a perguntas acerca do Movimento Espírita em entrevista que concedeu a “Cultura Espírita”, conhecida publicação mensal em seu número 90, de setembro de 2016, que transcrevemos a seguir.
1. Por que o Brasil é o maior país espírita do mundo?
DCV -Na obra “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” (1) fomos informados de que Jesus, nosso governador espiritual, considerando a situação moral da Europa ao final da Idade Média, determinou que a árvore do Evangelho fosse transplantada para nosso país, observando-se, então, entre outras providências, a reencarnação entre nós de valorosos trabalhadores que deveriam assegurar essa transferência, podendo-se mencionar dentre eles Bezerra de Menezes (Ceará – 1831) antes, portanto, da Codificação, mas que vinha com a tarefa de dar ao trabalho espírita uma ligação indissolúvel com o Evangelho; Eurípedes Barsanulfo (Minas Gerais – 1880), Yvonne do Amaral Pereira (Rio de Janeiro – 1900); Francisco Cândido Xavier (Minas Gerais – 1910), para mencionarmos somente os que já se encontram na espiritualidade.
A Doutrina Espírita nos esclarece, na questão 579 de “O Livro dos Espíritos”, que o planejamento da Esfera Superior, refletindo a orientação divina, necessariamente
se cumpre, pois, diante dele, defecções e percalços humanos correspondem a pequenas pedras que absolutamente não impedem que o “carro do progresso” siga em sua marcha e chegue ao seu destino. Estamos neste caso, ante uma situação dessas.
2. O que fazer para ampliar os aspectos da ciência e da filosofia espíritas, que parecem menores se comparados ao Brasil da religião espírita?
DCV – Embora a presença entre nós de nomes e trabalhos admiráveis nesse terreno, o desenvolvimento menor nas áreas da ciência e da reflexão filosófica no meio espírita decorre de condições históricas e econômicas e se observa igualmente em outros setores da vida cultural em nosso país, bem como em outras nações em desenvolvimento. Examinando-se, apenas como exemplo, os portais da “Society for Psychical Research”, de Londres (www.spr.ac.uk), e do “Rhine Research Center”, em Durham, na Carolina do Norte, EUA (www.rhine.org), ambos no idioma inglês, verifica-se que as duas organizações realizam estudos e patrocinam pesquisas
acerca da paranormalidade. A primeira, fundada em 1882, conta entre seus ex-presidentes com três laureados com o Prêmio Nobel e apresenta em seu portal ligações para 20 grupos de pesquisa paranormal, que funcionam junto a Centros Universitários na Europa e na América do Norte. A segunda dá continuidade aos trabalhos sobre paranormalidade iniciados em 1930 pelo Dr. Joseph Banks Rhine, na Universidade de Duke, em Durham, Carolina do Norte. Verifica-se em tais casos a presença de extensa tradição universitária, de que não dispomos ainda. E o que fazer então? Devemos prestigiar as iniciativas já existentes entre nós, principalmente no campo da medicina, onde já se observa inclusive a projeção dessas atividades no exterior.
3. Considerando os jogos eletrônicos, com o uso cada vez maior da internet pelas crianças e jovens, há alguma estratégia definida para utilizar mais esses recursos em favor de uma educação segundo os valores espíritas?
DCV – Essa preocupação não é apenas nossa havendo já material audiovisual de ótima qualidade, produzido em vários países para apoio à educação quanto a valores (respeito ao próximo, aceitação de diferenças, trabalho colaborativo). Totalmente alinhado com a proposta espírita, embora não confessional, ele é, no entanto, ainda pouco acessível pois aparece apenas na TV por assinatura ou em canais públicos de TV educativa. Compreensivelmente o seu custo de produção nos padrões da comunicação moderna é elevado. Não conhecemos iniciativas nesse terreno em nosso país.
4. Em vista dos enormes desafios do mundo atual, que providências devem ser tomadas com vistas ao treinamento e à capacitação das lideranças espíritas?
DCV – A liderança é um fenômeno natural que decorre de fatores pessoais e sociais que possibilitam a sua ocorrência. O modelo de organização – não hierarquizado e não profissional – adotado em nosso movimento tem possibilitado a propagação do Espiritismo em bases de simplicidade e autenticidade o que, associado ao desinteresse pessoal e ao reconhecimento da importância do estudo doutrinário, tem permitido que trabalhadores que evidenciam dedicação e competência (conhecimento da Doutrina e capacidade administrativa) sejam encaminhados aos setores em que podem contribuir da forma melhor. Devemos lembrar a propósito, que muitas organizações espíritas oferecem aos seus trabalhadores cursos de gestão e de relacionamento interpessoal. Como decorrência observamos em nosso meio a atuação generalizada de equipes de trabalho em que se observam diversidade de faixa etária, presença de ambos os sexos e variada formação cultural, ao lado da objetividade e do discernimento, podendo conduzir atividades com ritmo e orientação adequados. Tais fatos parecem indicar que essa necessidade vem sendo atendida.
5. O Brasil é mesmo o coração do mundo, a pátria do Evangelho? Somos um povo escolhido? Por que? Há destinação sem esforço?
DCV – Funcionam no Brasil atualmente cerca de 15.000 centros espíritas, oferecendo os serviços habituais de estudo doutrinário, bioenergia, atendimento fraterno, reuniões mediúnicas, além de outros. Se admitirmos que cada um realize três reuniões por semana, em um ano de 52 semanas teremos um total de 2.340.000 ocasiões em que pessoas se reuniram para orar e recordar as lições de Jesus com o objetivo de aplicá-las na promoção do bem. Se levarmos em conta a ação de outras correntes religiosas aqui estabelecidas e igualmente preocupadas com a defesa da vida e a afirmação de nossa natureza espiritual aquele número se amplia significativamente. As casas de oração, como sabemos, são pontos de apoio do trabalho realizado entre nós pela espiritualidade superior, que dispõe assim, aqui, de uma ampla “base de operações” para a construção do bem. Há dois fatos a serem ainda mencionados: o grande movimento editorial espírita com centenas de obras com excelente qualidade doutrinária e a quantidade de periódicos que chega a milhares se computarmos os boletins editados pelas casas espíritas inclusive pela internet, enquanto fora de nosso país esse número se conta nos dedos. Além da mistura racial que nos caracteriza, observada por sociólogos e historiadores, somos um povo com matrizes espirituais diversificadas possuindo em comum a necessidade urgente de recuperação de desvios morais do passado sendo mais apropriado falarmos não de escolha, mas de oportunidade de renovação de caminhos, bem focalizadas, aliás, no capítulo XX de “O Evangelho segundo o Espiritismo” (Os trabalhadores da última hora).
(1) Humberto de Campos, psicografia de Chico Xavier, edição FEB. Entrevista concedida a Revista “Cultura Espírita”, publicação do ICEB – Instituto de Cultura Espírita do Brasil.
Danilo Carvalho Villela é escritor e expositor espírita, Diretor do Abrigo Tereza de Jesus e Presidente da Cruzada dos Militares Espíritas.
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