O CANHÃO E O ARADO
Luiz Emílio Leo *
Por estranhos caprichos se encontraram,
Em um velho galpão abandonado,
A terrível garganta de um canhão
E a afiada navalha de um arado.
De repente uma voz rompe o silêncio,
Fazendo estremecer todo o galpão.
Voz cavernosa, tétrica, sóbria;
Vinha da negra face do canhão.
“Diz-me, pedaço insignificante,
De ferro inútil por mal empregado: que
Fizeste no mundo, de que serves, qual o
Valor do que se chama arado.
Podes falar-me sem constrangimento
Diante de minha superioridade,
Quero também saber a tua história e o
Que fizeste pela humanidade”.
E a afiada lâmina do arado lançou a
Sua voz na escuridão; Falou com
Calma e com serenidade: “Ouve terrível,
Rábido canhão.
Julga-te superior e me desprezas.
Triste poder da força que assassina!
Há entre nós só uma diferença: Eu
Sou a construção tu és a ruína.
Porque blasonas superioridade, se tens
do sangue e do ódio a atroz missão?
Tu revolves a terra para morte,
Eu a terra revolvo para o pão”.
Sou o bem, tu és o mal. Paz e guerra!
Matas milhões para um herói criar;
Sacrifico a um só, lavrando a terra,
Para milhões com trigo alimentar.
* Prof Dr Luiz Emílio Leo foi lente em Português e Literatura no Colégio Lemos Júnior na cidade de Rio Grande – RS. Publicou o livro de poesias “Força e Beleza”, em 1943. O Canhão e o Arado é u ma das poesias do capítulo “A Biblioteca e o Arsenal”
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