“Si vis pacem, para bellum”
Os exércitos são mais antigos do que os conceitos de país e de estado. Na história da evolução humana, os conflitos, as conquistas e a defesa de territórios marcaram no tempo a necessidade da existência de forças com armas, quer na composição da ordem interna das sociedades, quer nas relações entre os agrupamentos humanos.
É fácil perceber que tanto a família como o estado nacional constituem degraus de evolução em que a humanidade avança. A primeira, bem antiga, diz respeito à célula social que, em reunião, integra a nação. O segundo, instituído em tempo recente como ordem mundial vigente, congrega os nacionais, com o objetivo de conquistar o bem comum em favor de todos.
No contexto interno, o estado pode ser entendido por um contrato firmado entre os indivíduos que cedem parte do seu direito em favor de um “ser maior”(o estado), que passa a ter a primazia do uso da força para resolver os conflitos da atrição social, com vistas à preservação do bem-estar comum.
No contexto externo, diante do choque conflitivo entre o natural crescimento do poder nacional de diferentes atores nacionais, o estado justifica a necessidade de contar com forças para defender seus objetivos fundamentais aos quais culminam com a conquista do referido bem comum para sua sociedade.
Portanto, seja para ser utilizado como instrumento da defesa da pátria nas relações internacionais, seja para manter a necessária ordem interna, o estado não se arvora em possuir e manter forças preparadas para tal mister, como são as forças armadas e mesmo as forças auxiliares. É assim que caminha o nosso mundo, no dizer antigo: “se queres a paz, prepara-te para a guerra”.
Em missão coadjuvante, as forças armadas e auxiliares podem ser utilizadas na manutenção e preservação da paz, em diferentes locais do Globo, a convite das Nações Unidas. Também podem ser convocadas para atuar nas chamadas atividades subsidiárias, como socorro a calamidades públicas, casos de enchentes, incêndios em florestas, pandemias, acidentes aéreos e de navegação no mar, e muitos outros.
No caso do Estado Brasileiro, país com imenso espaço físico e marítimo e diversidades de riquezas naturais, essas forças necessitam fazer uso da presença em todo o território nacional, para não haver vazio de poder, e uso da dissuasão, para desencorajar qualquer iniciativa que venha desconstruir a ordem estabelecida.
Por outro lado, o papel das forças armadas têm relevante significado para o desenvolvimento do Brasil, com contribuições em todas as expressões do poder nacional. Desde a contribuição social pelo serviço militar obrigatório, passando pelo impulso dado em setores de infraestrutura econômica e tecnológica, como na manutenção da democracia, um dos objetivos fundamentais eleitos ao longo da história brasileira.
Assim, não há dúvidas em responder a pergunta: “Forças Armadas, para quê?”.
Por fim, após a passagem do século XX, com duas grandes hecatombes mundiais, seguidas por longo conflito polarizado, também de alcance mundial, o despertar do III milênio vem valorizar e inspirar a utilização das forças armadas com o emprego da “mão amiga” em ações que elevem a dignidade humana, como as ações subsidiárias e a ajuda humanitária, bastante presentes em nossa época, para dar, enfim, testemunho e consagrar o sentimento humano pelo próximo.
José Lucas de Silva – Cel R/1 – Cz 6294
O CANHÃO E O ARADO
Luiz Emílio Leo *
Por estranhos caprichos se encontraram,
Em um velho galpão abandonado,
A terrível garganta de um canhão
E a afiada navalha de um arado.
De repente uma voz rompe o silêncio,
Fazendo estremecer todo o galpão.
Voz cavernosa, tétrica, sóbria;
Vinha da negra face do canhão.
“Diz-me, pedaço insignificante,
De ferro inútil por mal empregado: que
Fizeste no mundo, de que serves, qual o
Valor do que se chama arado.
Podes falar-me sem constrangimento
Diante de minha superioridade,
Quero também saber a tua história e o
Que fizeste pela humanidade”.
E a afiada lâmina do arado lançou a
Sua voz na escuridão; Falou com
Calma e com serenidade: “Ouve terrível,
Rábido canhão.
Julga-te superior e me desprezas.
Triste poder da força que assassina!
Há entre nós só uma diferença: Eu
Sou a construção tu és a ruína.
Porque blasonas superioridade, se tens
do sangue e do ódio a atroz missão?
Tu revolves a terra para morte,
Eu a terra revolvo para o pão”.
Sou o bem, tu és o mal. Paz e guerra!
Matas milhões para um herói criar;
Sacrifico a um só, lavrando a terra,
Para milhões com trigo alimentar.
* Prof Dr Luiz Emílio Leo foi lente em Português e Literatura no Colégio Lemos Júnior na cidade de Rio Grande – RS. Publicou o livro de poesias “Força e Beleza”, em 1943. O Canhão e o Arado é u ma das poesias do capítulo “A Biblioteca e o Arsenal”