Mensagem Maurícia 014 de 1965

         Cruzados do Brasil!

          Mais uma vez nós reunimos para revenerar, em perfeita comunhão espiritual, o nosso grande Patrono e Guia que a todos ampara, com carinho, com amor. E, para isso, conveniente será fixarmos, no tempo e no espaço, a sua gloriosa passagem pela terra.

          A velha República Romana aproximava-se do naufrágio, após cerca de séculos de conquistas, a última das quais foi, verdadeiramente, a do Egito, incorporado ao domínio romano, como província, no ano 30 AC.

          Conquistado o Egito, Otávio, sobrinho e filho adotivo de Cesar (assassinado em pleno Senado, no ano de 44 A.C.) voltou a Roma, acumulando todos os poderes.

          Para conservarem o seu imenso território, foram os romanos obrigados a manter, permanentemente e ao longo da fronteira, numeroso exército, composto de Legiões, de efetivos variáveis, sob rígida disciplina, sendo executado, de modo cruel, o militar que fugia durante o combate. E, quando uma Unidade inteira se insubordinava, eram os soldados reunidos em grupos de dez, dos quais um, por sorteio, era executado. Nisto consistia a dizimação.

          A partir do século II, a anarquia, não só na esfera política e administrativa como na área militar, ia se acentuando.

          Atraídos pela civilização e riqueza do Império Romano, os bárbaros, que habitavam as terras além dos rios Reno e Danúbio, faziam incessantes esforços para invadi-lo.

          Diante de tal situação, Deocleciano, que no ano 284 havia sido proclamado imperador, resolveu fracionar a autoridade imperial com Maximiano, ficando ambos com o título de Augusto (o Venerável), e escolher para seus auxiliares, com o título de Cesar, Galério e Constâncio Cloro.

          O governo do império foi dividido pelos quatro, ficando Maximiano com a Itália, a África e as Ilhas do Mediterrâneo.

          Para dominarem as revoltas e as tentativas de invasão que ocorriam na Gália Transalpina (hoje Suíça e parte da Alemanha), poderosas forças foram organizadas, sob o comando de Maximiano, dela fazendo parte uma legião, até então aquartelada em Jerusalém, Legião denominada Tebana, por ser originária da Tebaida (Alto do Egito), que tinha, como cidade principal, a de Tebas. Era ela bem conhecida dos dois Augustos, pelo seu excepcional comportamento na Síria e no próprio Egito.

          Deixando Roma, para onde tinha sido levada, a Legião Tebana, transpôs os Alpes e foi acampar em Octoduro, atual Martigny (Suíça), na planície cortada pelo rio Ródano.

          Os romanos, politeístas que eram, acreditavam que tudo o que acontece é obra de divindades, concedentes de favores em troca das oferendas que se lhes fazem, observando-se determinados ritos.

          Era Augusto Flávio, imperador romano (30 a.C. – 14 d.C.) quando, na Judéia, nasceu o Mestre dos Mestres: JESUS.

          Não obstante a tremenda perseguição sofrida pelos cristãos, foi o Cristianismo se expandindo, tendo atingido as regiões do Alto do Egito, onde os Eremitas, praticantes da religião em sua simplicidade, se foram estabelecendo, com a crescente aquisição de adeptos. E, de tal modo se espraiou que, em curto prazo, a Legião Tebana se tornou integralmente cristã, sob o comando de MAURÍCIO e subcomando de EXUPÉRIO.

          Em Octoduro, onde estava acampada a Legião, recebeu o Capitão MAURÍCIO ordem para que, com ela, participasse das solenes oferendas que todo o Exército ia fazer aos deuses, em troca da almejada vitória.

          Como cristãos, não poderiam, MAURÍCIO e seus comandados, participar dessas solenidades pagãs. Resolveu, por isso, afastar-se do local, indo acampar à margem do mesmo rio Ródano, no campo de Ternate.

          Maximiano surpreendeu-se com esse gesto; e, ao lhe ser informado que assim o fizeram por serem cristãos, ordenou, com receio de que a cólera dos deuses recaísse sobre o Exército Romano, que a Legião retornasse ao seu anterior acampamento, sob pena de dizimação.

          Sob essa ameaça, resolveu MAURÍCIO expor aos seus subordinados a situação, para que deliberassem: – ou se manteriam fiéis ao Pai Único e ao Divino Filho, e neste caso seriam sacrificados; ou abjurariam os princípios cristãos e, então teriam a vida material preservada.

          Incisiva e uma foi a resposta: – como soldados, manter-se-iam fiéis a Augusto; como cristãos, eram servos de DEUS e de seu amado FILHO.

          O resultado foi a dizimação seguida de outra, após a qual MAURÍCIO resolveu dirigir-se aos seus soldados, e, da sua exortação justa é que se transcrevem algumas passagens, reveladoras da sua extraordinária têmpera:

          “Amados companheiros, o Exército cujos homens fossem iguais a vós conquistaria o mundo. Mas os governantes não compreendem que vem da fé a vossa força e o vosso valor; ignoram, ainda, que a consciência cristã se deve a vossa coragem e disciplina”.

          “Até agora ouvíamos contar a admirável coragem dos primeiros mártires que, pelo amor de JESUS, afrontavam, com um sorriso nos lábios, os carrascos e as feras nos circos. Hoje, meus irmãos, é a vós próprios que vemos, em exemplo semelhante, de como se imola a vida pelo ideal da fé; é nesses corpos sagrados, cujo sangue encheu a terra e nos tingem as vestes, acirrando em nós o desejo de alcançar, pelo mesmo caminho, idêntico triunfo”.

          Dirigindo-se MAURÍCIO, em seguida, aos soldados de Maximiano, disse-lhes:

          “A Legião Tebana mantém, no transe da morte, fidelidade ao CRISTO DE DEUS, como a manteve aos Césares nos transes da vida”.

          Novo sorteio de dez foi realizado, sob estupefação dos executores da ordem, diante do desprendimento dos legionários, prontos a seguirem ao encontro dos companheiros já martirizados.

Terminado o terceiro massacre, o Subcomandante Exupério dirigiu-se, por ordem de MAURÍCIO, aos companheiros ainda encarnados, e lhes disse:

          “Meus irmãos, se ainda empunho o glorioso estandarte da nossa Legião, é só para concitar-vos a uma nova espécie de combate, no qual cabe a vitória à paciência. Nossos companheiros deram por JESUS o seu sangue; esperemos que ele aceite também o nosso”.

          E, voltando-se para os executores da ordem imperial, pediu-lhes para que transmitisse ao Imperador o que havia escrito e que passou a ler:

          “Senhor, temos a honra de ser, há um tempo, vossos soldados e servos de Deus verdadeiro. Como vossos soldados, temos o dever de submissão no serviço militar, e nunca poupamos sacrifícios por ele. Sabem que a legião Tebana foi sempre um dos mais afamados corpos do Exército do Império e, como tal, justamente admirada pelos chefes e temida pelos inimigos.

         “De vós recebemos o nosso soldo, mas como só a DEUS devemos nossa vida, não podemos cumprir as vossas ordens quando são contrárias aos mandamentos que d’ELE recebemos. Negando-nos a adorar falsos deuses, fácil nos fora dirigir contra vós as nossas armas, mas foi do MESTRE DIVINO que aprendemos: Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. Se este mesmo Deus determina que vos outorguemos o que a vós devemos, não tendes o direito de impedir que a ELE consagremos o que é seu. E se ELE é nosso Senhor em primeiro lugar, e vós sois em segundo, a qual de ambos devemos preferência em nossa submissão?

          “Tirastes a vida aos nossos irmãos de arma e de crença; mas ao invés de vingá-los, desarmamo-nos com o fim de vos provar que não queríamos combater, mas manter a nossa fé.

          “Nossas armas e nossas pessoas vos pertencem, tomai-as; mas nossa consciência está voltada a Deus e não lhe faltaremos com a mínima parcela de fidelidade. Enviai vossos algozes, que nos hão de encontrar prontos para o suplício e sem lhe temer os sofrimentos, porquanto ao tirar-nos a vida corpórea de duras tribulações e de breve duração, nos fazem ingressar na outra, na verdadeira, na feliz, na da eternidade.

          “Em suma, somos todos cristãos e nada nos fará entibiar a fé. Prossegui na matança. A Legião Tebana a espera sem medo nem defecção.”

          Logo que tomou conhecimento dessa decisão, Maximiano ordenou a todo o exército que assaltasse a extraordinária Legião e matasse todos os remanescentes. E desse modo foi exterminada a lendária Legião Tebana, com o Capitão MAURÍCIO à sua frente.

          Nada, porém, se realiza sem a integral observação das leis naturais, divinas.

           Na epopeia da Legião Tebana, vamos encontrar a infinita bondade do Pai, que permitiu que tantos Espíritos, aos quais faltava amarga prova para o seu progresso, encarnassem na Tebaida, para que, grupados, melhor pudessem cumpri-la. Todos foram felizes, porque souberam, sob a direção de MAURÍCIO, vencer o fascínio da vida material.

          Séculos depois, o Capitão MAURÍCIO, da Legião Tebana e dos campos de Ternate, recebeu nova incumbência, qual a de, como Patrono e Guia da Cruzada dos Militares Espíritas, orientá-la no cumprimento da sua alta missão, prevista no preâmbulo do seu Estatuto.

          Prestemos, pois, neste dia 22 de setembro de 1965, as nossas homenagens ao nosso Guia e aos seus valorosos legionários, com o compromisso de, seguindo seu exemplo, procurarmos a estrada das boas realizações espirituais, única que vai ao aprisco do PAI.

     FIM

XII Semana Maurícia. Elaborada pelo Cruzado, Gal.da Bda. R/1 Albano Osório

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