Carlos Wagner de Britto
Cz 6.999
“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade.”
O Pequeno Príncipe – Antoine de Saint-Exupéry
O grande padre Antônio Vieira em “Sermões Escolhidos” dizia que eram necessárias três coisas para o homem ver a si mesmo: – os olhos, o espelho e a luz. A parte que cabe ao homem é o conhecimento e é representado pelos olhos; o espelho é a doutrina (ensinamentos); e Deus concorre com a luz, que é a graça. E complementava: – o que seria a conversão de um homem senão o mergulho dentro de si mesmo para ver-se?
De fato é um hábito extremamente salutar ver-se sem máscaras. E isso principalmente no mundo atual onde as relações interpessoais têm requisitado de cada pessoa uma cota bastante grande de sinceridade, pois do contrário a convivência resultaria sinteticamente em duas formas, ou de hipocrisia ou de solidão.
Os olhos
Muito da ciência ou do conhecimento que adquirimos no mundo vem dos sentidos. O toque, o cheiro, o sabor, o som, a visão… Mas os resultados fisiológicos que têm estas entradas são diferentes da percepção que a nossa consciência produz. Isso porque a percepção nos remete à imaginação. Note-se que a palavra já é indicativa, vem de imagem. Imaginar é concretizar os sentidos das coisas do mundo que nos envolve através da mente.
No caso particular da visão, muitos cientistas sustentam que a faculdade de ver e a de enxergar são distintas e, portanto, envolvem partes também distintas do nosso cérebro. O lado racional da mente absorveas imagens e as registra; o outro lado, o emocional, analisa as imagens segundo seus padrões de conhecimentos e sentimentos.
Os “olhos do coração” de Saint Exupéry quando educados, pacientes e gentis vêem o lado bom das pessoas, dos eventos e situações do mundo. Otimismo não é conformismo ou acomodação, é sim ‘reciclagem’ de cada tropeço, queda, mágoa, desilusão e tantas outras dificuldades inerentes à nossa vida em lições de aprendizado.
Se por outro lado esses olhos forem maus, mesquinhos, orgulhosos ou egoístas, eles verão as mazelas, as fraquezas, os erros; o problema não é ver as falhas do
mundo e das pessoas, mas só ver o lado ruim.
Jesus já nos alertava quanto a isso: – Os olhos são a lâmpada do corpo. Portanto, se teus olhos forem bons, teu corpo será pleno de luz. Porém, se teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em absoluta escuridão. Por isso, se a luz que está em ti são trevas, quão tremendas são essas trevas! (Mateus, 6:22 – Lucas, 11:34)
O espelho
Espelhar-se é, no sentido simbólico, tomar para si um modelo de alguém ou de algum aforismo. No Antigo Testamento, é dito que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança; não perfeito, mas perfectível, destinado à perfeição. O homem a cada encarnação cresce em aprendizado (espelho) e ao mirar-se nele tem uma ‘visão cada vez mais nítida’ de Deus à medida que espiritualmente evolui.
A doutrina espírita ensina que o fim primordial da reencarnação é a educação do espírito imortal. E o homem cada vez mais se verá na semelhança de Deus quanto mais tiver aprimorado o seu caráter.
O outro espelho do homem é o próximo dele.
A menos que a criatura seja um eremita, que viva longe de qualquer contato humano, ela terá que lidar com as deficiências do próximo, e também com as observações alheias sobre suas próprias deficiências. Viver no mundo pressupõe conviver.
O convívio torna o homem melhor e como consequência promove na sociedade um nível de vida melhor para todos. Para isso é necessário que no espelho o homem consiga ver seu semelhante refletido na imagem de si mesmo. As guerras, a fome, as injustiças sociais são os frutos amargos plantados pelos homens que ainda não conseguem colocar-se no lugar dos outros.
Para o nosso aperfeiçoamento geral, como seres encarnados na Terra, há três tipos principais de espelhos nesta vida: o espelho que reflete cada um a si mesmo que é quando estamos exercendo o nosso autoconhecimento; o espelho que não reflete a nossa imagem e sim a do nosso próximo que é quando praticamos a caridade de fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem e, finalmente, o espelho cuja reflexão de nossa imagem é a de Deus que será quando num longínquo tempo cumprirmos a sentença de Jesus: – Sede perfeitos como perfeito é o Pai que está no céu. (Mateus, 5:48)
A Luz
Uma pessoa com olhos saudáveis e um espelho limpíssimo, pronto! Ela poderá se posicionar em frente deste espelho e ver-se perfeitamente, certo? Não necessariamente. O que falta? Se não houver luz no ambiente, nada feito! Essa pessoa não conseguirá ver o reflexo de sua imagem…
A luz natural ou branca é a fusão das luzes que compõem um amplo espectro de cores, cada qual vibrando numa frequência diferente. Em materiais translúcidos a luz ao incidir se refrata separando-se em várias cores. Um exemplo disto é o fenômeno do arco-íris, quando incontáveis gotinhas de água da chuva ainda em suspensão na atmosfera são atravessadas pelos raios solares formando no céu um arco de sete cores.
Tudo o que pode ser detectado por nossos olhos, e por outros instrumentos de fixação de imagens como câmeras fotográficas e de vídeos, lunetas, microscópios, etc.,
vem através da luz refletida pelos corpos e objetos opacos.
Nós vemos as imagens do mundo que nos cerca, porque quando a luz natural ou artificial branca incide sobre um objeto, este reflete de retorno somente a cor ou as cores que fazem parte de sua pigmentação original. Por exemplo: um morango maduro ao ser incidido pela luz branca absorverá a energia de todas as cores e refletirá somente o vermelho que é sua cor natural. O processo todo depende da luz!
A Física ensina que existem dois tipos de luz: as primárias que são os corpos luminosos e as secundárias que são os corpos iluminados. Em nossa representação, Deus é a fonte primária de luz universal e nós criaturas somos as fontes secundárias que d’Ele dependemos para nos iluminar.
Conta-se que um menino estava se esforçando para mover um pesado armário, mas o móvel não cedia. Ele empurrava e puxava com toda sua força, mas não conseguia movê-lo nenhum centímetro. O pai, que ali chegava, parou para observar os esforços vãos do filho. Finalmente perguntou: – Filho, você está usando toda
a sua força? – Sim, estou! Gritou o garoto, exasperado. – Não está. Retrucou calmamente o pai. – Filho, você não me pediu para ajudá-lo.
Deus (Luz) concorre com Seu puro amor para o conhecimento (olhos) do homem de Suas leis magnânimas de evolução espiritual, através dos ensinos (espelhos) milenares de Seus enviados celestes tais como Krishina, Buda, Confúcio, Sócrates e o maior de todos, Cristo. Esses Missionários de Deus vêm nos ajudar na escolha do caminho mais curto e rápido para chegar ao Seu reino. Infelizmente muitos de nós na Terra não somos humildes o suficiente para reconhecer a grandeza de Deus, nosso criador. O orgulho e o egoísmo são as sombras que ainda obscurecem o caminho do ser humano rumo à sua evolução espiritual e é por isso que o planeta até o presente momento não ascendeu no concerto das moradas do Pai a uma estância de regeneração!
Quem tem olhos de ver que veja…
O autor é Engenheiro, Presidente do Núcleo da Vila Militar-Deodoro no Rio de Janeiro, RJ.
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